29.4.14
Meli
Postado por Isabela Gaia às 22:20 0 comentários
6.7.13
-
para Tomás
todo mundo morre, e eu vendo a tarde alaranjar-se atrás da igreja
dizer que o dia é longo, eu não digo
dizer que passa rápido, que quando fui ver já tinha sido...
meus males não vêm dos passos do tempo
tanto faz se aquela amiga chega ou se eu enrolo outro cigarro
tanto faz que eu escreva ou durma
até porque dormir e escrever são o mesmo,
se considero os sonhos e os sonhos
não sei se me explico quando desapareço ou me encerro
eu sozinha sou igual a você
esse sentar-se na beirada da cama e olhar pela janela sem nunca morrer
depois cigarro e fingir que espero a minha amiga
aquele que espera não tem de fazer mais nada
Postado por Isabela Gaia às 17:07 1 comentários
21.3.13
não comece ainda o enterro
velemos mais uma noite o nosso morto
deitemo-nos ao lado dele
na cama compartilhada
e durmamos tão incômodas e tristes
que nossa imagem compadeça um fotógrafo
faça-o porque sou eu quem seguirá chorando
longamente a sua morte
quem despertará no meio da noite
quando os sonhos mesmos
compreenderem que ele se foi
e em outras noites
é a mim que ele assombrará
eu, a intranquila
que o verei em todas as coisas
que esperarei o milagre
você é minha cúmplice neste crime,
fique só mais uma noite
(20/09/12)
Postado por Isabela Gaia às 00:43 1 comentários
18.12.12
as coisas de amor nunca tiveram forma justa
o que sim se sabe é que são doze
fervem a 36ºC e são solúveis em sangue
algumas nunca deixam a casca
a calcária casca de nácar, que é
o mesmo que medo
o nácar é a saliva ansiosa da ostra
- não, nunca foi confortável
abrigar um corpo estranho
as coisas de amor querem ser
mas você sentiu um instante de vergonha,
como por vezes te causa vergonha
algo que você produz,
você se encerrou
o amor pereceu na língua
você se convenceu
(você foi assustadoramente convincente)
de que se tratava
de outra classe de coisa
Postado por Isabela Gaia às 21:12 1 comentários
14.7.12
2012
lugares tão bonitos quanto este
inundarão rapidamente
e os ventos desviarão outra vez
a foz do rio Cambury
o mar se encherá de rio
as ondas
que chegarem à costa
(lá está você)
serão ouvidas
do quarto onde dorme
você despertará
já imersos os pés da cama
e logo toda a cama
flutuará pela escuridão
trombando criados-mudos
atravessará delicadamente a porta
ganhará a tempestade,
a maré violenta que sossega
pra lá da rebentação
da minha cama eu te verei no alto-mar
uma vez amanhecido o dia
e um grande livro de cabeceira,
remo de capa dura,
me levará até você
(29/11/11)
Postado por Isabela Gaia às 18:06 0 comentários