Eu te devoro com os olhos úmidos. Eu tento te amolecer. Mas teu bom olho bóia etílico e embaçado – você nunca mais vai me ver. Eu arrasto os pés por esse espaço teu, eu contamino a tua vida? Eu quero amaldiçoar todos os cantos com a minha melancolia, mas tudo virou para o avesso e os cantos convergem em um só ponto, que eu não vejo – aqui eu não caibo, aqui eu não mereço. Eu sou expulsa pela tua indiferença. Eu levo um pedaço de você, de que nem vai se lembrar. E o dia tem seus direitos.
Esse domingo chove descompassado. Eu não quero voltar para a cidade. A fuligem cobriu minha alma quando pisei descalça o asfalto. Eu quero ir lá fora agora, menina, eu quero a chuva, a lama entre os dedos, a grama macia, eu quero meu corpo mais livre, meu corpo de criança reconciliado com o mar. Eu não te queria quando eu comecei, o que eu quero é terminar contigo. Vamos, vamos lá fora. Eu um dia te convidei para dançar. Mas você é a dona da música. A dona da música de costas para mim. Quando você se virar, será para o lado errado, o lado em que você continua sem (me) enxergar. Eu moro do lado de lá do teu rosto. Eu acho que vou sempre morar.
2.11.08
tinta fresca
Postado por Isabela Gaia às 12:04
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Um comentário:
é.. as vezes a gente vive no avesso das pessoas, ou vai ver que somos esse próprio avesso, impossível de juntar.
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