Sara recebe em casa
uma carta-documento
mas ela não está em casa
está no trabalho
e tudo vai bem no trabalho
os patrões viajaram
ela está a cargo
ela não entende
por que recebeu uma carta-documento
a empregada dá de ombros
ela não dorme essa noite
seu filho diz não há de ser nada
ainda vamos rir disso
ela escuta, mordiscando um pão
à tarde faz um telefonema
aciona seu advogado
pra que se ponha alerta
passa a semana
ela perdeu peso e pensa
na segunda vou ao correio
pulo o almoço
assim vai ser
chega segunda
ela está no correio
tem uma senha na mão
mas o carteiro pode agora mesmo
estar com o dedo na campainha
e a empregada vai dizer
que Sara não está
são três as tentativas
antes que a carta volte de vez ao correio
e espere por Sara
que espera qualquer coisa
o que é uma carta-documento, eu lhe pergunto
eu, que recebi poucas cartas
jamais uma documento,
é notícia ruim
não importa o que seja
é sempre ruim,
Sara diz e chega sua vez
a senha úmida pousa no balcão
uma moça lhe sorri
só porque está atrás do vidro
agarra um maço de cartas
folheia
a carta poderia não estar ali
mas está
é amarela
Sara a toma nas mãos
passando por mim
diz já vou indo
se a leio aqui, desmaio
18.3.11
a vez dos outros
Postado por Isabela Gaia às 21:15
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3 comentários:
sara esquece a chave no
correio e abre
a porta com a carta documento.
nunca soube
o que estava escrito.
a carta esmigalhada.
Uma carta... um suspiro... um sonho...
Onde andará Sara?
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