19.2.11

se o som de um carro que chega
não te desperta nada
a madrugada avança sem
que você recue
lá de fora uma língua estrangeira
entrecorta a música
sexta-feira, quinto andar
nenhum cheiro é memória
amigos que um dia tiveram rosto
dormem profundamente
não mais:
ânsias com hora marcada
pequenos confortos em um cenário
de calçadas gastas e o cão sobre o muro
quando o almoço saía ao meio-dia
e o jogo era percorrer as duas quadras até ele
com os olhos fechados
eu tenho enfermidades inomináveis
me retorcendo as vísceras
conheci rasamente uma mulher
quando criança pensava que
só os adultos tinham vísceras
é doce e não me importa, o novo
resvala meus sentimentos
mais honrosos
se vai de tédio
até mesmo as mulheres
serão imperceptíveis