6.7.13

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para Tomás

todo mundo morre, e eu vendo a tarde alaranjar-se atrás da igreja
dizer que o dia é longo, eu não digo
dizer que passa rápido, que quando fui ver já tinha sido...
meus males não vêm dos passos do tempo
tanto faz se aquela amiga chega ou se eu enrolo outro cigarro
tanto faz que eu escreva ou durma
até porque dormir e escrever são o mesmo,
se considero os sonhos e os sonhos
não sei se me explico quando desapareço ou me encerro
eu sozinha sou igual a você
esse sentar-se na beirada da cama e olhar pela janela sem nunca morrer
depois cigarro e fingir que espero a minha amiga
aquele que espera não tem de fazer mais nada

21.3.13

não comece ainda o enterro
velemos mais uma noite o nosso morto
deitemo-nos ao lado dele
na cama compartilhada
e durmamos tão incômodas e tristes
que nossa imagem compadeça um fotógrafo
faça-o porque sou eu quem seguirá chorando
longamente a sua morte
quem despertará no meio da noite
quando os sonhos mesmos
compreenderem que ele se foi
e em outras noites
é a mim que ele assombrará
eu, a intranquila
que o verei em todas as coisas
que esperarei o milagre
você é minha cúmplice neste crime,
fique só mais uma noite

(20/09/12)