22.12.08

pós

Há pouco mais do que o desejo de que venha. Do que a vontade de me deitar ao seu lado e ver que tudo ainda pode ser dito. Mesmo que não daquela maneira, não como nas longas cartas. No fim, ambiciono o fim do silêncio mais do que tudo. Porque a vida se divide em gomos em que o silêncio é necessário e gomos em que se torna absolutamente insuportável. Assim como não supõe os dias sem água, sem sono, sem porto, os dias de boca salgada e bolhas de sol, o náufrago que luta para emergir; assim é a minha ignorância, e digo, repito, caduco, quero pouco mais do que te encontrar na plataforma e transferir tua bagagem para as minhas mãos. Um peso que não me cabe e que vai me desprezar em toda a sua trajetória. Quando é de nossa escolha ficar – fincar –, o tempo articula sagaz a sua vingança. Faz correr o que ignoramos e boiar podre toda a vida entre um copo e o nariz. Mas desejo que venha, pois se um dia ficamos é para no outro encarar o que envelhece, com nossos olhos perturbados infantis. Deite-se ao meu lado por um momento apenas, ouça a rouquidão do meu cansaço, me conte o que havia por lá, onde a saudade que entornei não alcançou.

10.12.08

um poema de meu amigo Daniel Barreto

com gosto de pipoca
tua boca do teu rosto minha oca
minha fuga,
me afoga em teu resto
em teu todo calor refoga
salga
agua na boca, lingua na boca.
com gotas de algodão
tua mão é minha saia de dançar baião
minha gula
me engula doce, me despedace
como um algoz, coma a gosto
a caminho do rosto, carinho no rosto
foi meu colo louco
quem te quis
encima do sonho
vem seu teto torto
sem paredes vis
cimentado meu coração

9.12.08

porque

a voraz autofagia das paixões natimortas. meus anseios e medos. tudo em mim se revolta. todo intenso me cavalga. mas antes de me consumir, antes mesmo que abocanhe o rabo próprio, me reconhecerei em vícios. me livrarei da urgência angustiosa. dos quandos, de mim. aos poucos, eu nasço.

é pois.

Quando estou tão triste. E busco nos emails do yuri qualquer sorriso. E telefono para ela. E penso em todos vocês e na janela. E quero tanto ir embora dos quases. Quando tudo se faz mais grave. Ah, meu amor, e quando você não atende. Mas a vontade se torna cansaço. Você nem se surpreende. Que eu durma, que eu também quase. Te deixo um recado mudo. Você vai dizer ...que ando bebendo demais.