8.4.09

sempre

para a Sheyla



Na primeira manhã do tempo
despertaram silenciosos
as galinhas, as crianças, os carvalhos
cuidaram uns dos outros
e houve até uma breve discussão
em torno de dois dos grãozinhos da areia

Contudo surgia nos olhos
o acinzentado medo
do que se chamaria
porvir

Pois na primeira manhã do tempo
nasceu a ansiedade
– e já que não se sabia
que para tudo existiria hora certa
nasceu desavisada a música, a morte
a História, o almoço

Quando já estava escuro
a ventania folheou um calendário
de páginas ainda brancas
e da boca de um velho
irrompeu o agouro

deve chover
amanhã

5.4.09

-

não há um nome, um título
não é divino
não é edificante
não tem um centro
pra onde eu possa apontar o dedo
não me preenche nem esvazia
não faz jus aos acontecimentos
não é
o que eu disse ontem
não foi
o que eu quis dizer
não quer ser
não mata, não morre
não é forte o bastante
próximo e distante – às vezes não está
não é ruidoso
não avisa quando chega
não tem medo
nem tem fome
não tem o tamanho de um homem
não posso dominá-lo
e não vai desaparecer
não é meu
não é seu
nos foi aconselhado
não comentar