28.5.08

Pequeno amor febril

É de gemer baixinho o amor miúdo que não me deixa
Quedo-me inútil debaixo a cobertas e lembranças de você - metonímias de minha solidão
Também te recordo aos pedaços, os traços
O conjunto dos olhos bem desenhado
e o canto fino dos lábios, que se alargam, se provocados
As mesmas imagens repetindo-se como grande insônia sonhada
O dia em que se propôs a pensar por longos minutos na cama...
O dia em que...
Sou na saudade calafrios, tristeza contida irremediável
E escrever não consola os que se pensam coitados

14.5.08

tic

O dia tingido de amarelo, voltando luz às cores fortes, à rua, às roupas, à mulher que arrasta seu guarda-chuva pela calçada áspera de vida, os pés firmes na poeira cor do céu cinza desse dia de contrastes, os letreiros, semáforos, faróis dos carros muito vermelhos, muito cor, muito. Meus olhos manchados de todos os tons seguem o guarda-chuva que trepida na brincadeira preguiçosa da moça de laranja que vai para onde. Um homem olha o outro decidido, com o grande nariz, num instante último em que se cruzam, cumprimenta. O outro estaca. Eu estaco. O homem que carrega um embrulho de isopor atrás de mim, quase me suja de molho. Que molho? Mas não se ouve o tic tic do guarda-chuva que se foi à frente, nem soube do nosso quase acidente de pedestres mornos nesse dia inteiro de cores, dia agressivo nublado, com promessa de chuva e sem chuva pra descansar o corpo, exausto do ofício, na certeza de um vaiparar, hora ou outra, parar. E o relógio insiste.

9.5.08

tosse, tosse

- E então, doutor?

- Ergofobia.

- Hum... devo tirar uns meses de licença?