18.12.09

call it drama

Não me entregue suas conclusões precipitadas
Não me aponte o que eu mesma te segredei
Por favor, não confunda a sua a minha vida
com esta clareira de tempoespaço que se abriu
para estarmos juntas
– ela é maior do que os jogos de viver
Saiba de antemão que sentirá minha falta
na noite mais atípica do ano
E que eu sentirei a sua, como sinto sede
ou saudade do mar
Neste dia, experimente sua solidão
como fazem as crianças
(aterrorizadas em seus mundos de poucos nomes)
E suspeite de que os teus desencontros tenham sido
encontros insuportáveis

18.11.09

fábula

é de minha natureza
caçá-lo
seduzi-lo
com nacos de carne
minha
encerrá-lo na casa
de palha e palitos
ardil
degustá-lo e tomar
lambidas suas
ser provado, envolvido
amá-lo por isso
querer
mais, pedir
mais
conforme o instinto
rói
meus calcanhares
e é tarde e
é hora
abocanho seus
laços de fita
restos de rosas
lençóis empapados
os cílios despertam
no rosto incrédulo
o que posso
fazer?
se é de minha natureza
estraçalhar seus
órgãos

7.10.09

carta covarde

A verdade é que estou te esquecendo. Como se esquece de comprar detergente. As lembranças são indomáveis, comportam-se dentro da mente como poeira nos fachos de luz. Lembro da disposição das pintas principais do seu rosto. Da textura daquela camiseta vagabunda do Pixies. Da sua voz quando gargalha. Não me lembro como é te beijar, o que eu sentia quando te deixava dormindo em minha cama e ia trabalhar. São coisas que decantaram, desceram à garganta, me engasgaram antes de ser digeridas. Difícil precisar o quanto ainda resta para digerir, se tudo vai passar. Eu não devia te contar isso, mas às vezes te culpo: quando eu tiver de renunciar finalmente a você, terá sido por uma escolha inicial sua. Me pergunto se você realmente compreende essa balança. Me pergunto se era meu papel ter dito alguma coisa. Em outros tempos eu escreveria um texto subjetivo e insinuador sobre tudo isso. Mas agora o amor me parece essa questão racional, e falo em papéis e culpas e balanças. Não gosto dos nossos jogos de expectativas. Temos brincado sobre o fino arame da comunicação à distância, fazendo vista grossa às farpas. Eu pensei que seu mundo aí estivesse tão pequeno quanto o meu – no outro dia tive de ouvir uma incrível história basicamente sobre alguém ter dado uma volta na quadra e encontrado uma vaga. Mas você me diz que está feliz. E o que você não sabe é que quando isso se confirma, ao menos de um dos lados, o mundo se desinteressa de nós. Nada conspira. E o tempo vaza a conta-gotas pela torneira da cozinha, sobre a louça que se empilhou enquanto eu me esquecia.


La carta cobarde

La verdad es que te estoy olvidando, como olvidamos comprar detergente. Los recuerdos son indomables, se portan como el polvo en las grietas de luz. Me acuerdo de la disposición de los principales lunares de tu rostro. De la textura de aquella remera berreta de Pixies. De como cambia tu voz cuando te reís. No me acuerdo como es besarte, lo que sentía cuando te dejaba durmiendo en mi cama e iba a trabajar. Son cosas que se decantaron, bajaron a la garganta (me atraganté antes de digerirlas). Difícil mensurar cuánto todavía resta para digerir, o si todo va a pasar. Yo no debería contarte eso, pero a veces te culpo: cuando tenga que renunciar finalmente a ti, habrá sido por una elección inicial tuya. Me pregunto si comprendés esa balanza. Me pregunto si era mi papel haberte dicho algo. En otros tiempos, yo escribiría algún texto subjetivo e insinuador sobre todo eso. Pero ahora el amor me parece esa cuestión racional, y hablo sobre papeles y culpas y balanzas. A mí no me gustan nuestros juegos de expectativas. Hemos jugado sobre el delgado alambre de la comunicación a la distancia, pasando por alto sus espinos. Yo pensé que tu mundo allí estuviera tan pequeño como el mío – el otro día fue obligada a oír una increíble historia básicamente sobre alguien que conducía alrededor de una manzana y encontró un sitio donde estacionar. Pero me decís que estás contenta. Y lo que no sabés es que cuando eso se confirma, al menos para una de las partes, el mundo se desinteresa de nosotras. Nada conspira. Y el tiempo vacía a cuentagotas en la pileta de la cocina, sobre los platos que se amontonaron mientras yo me olvidaba.

13.9.09

duas vezes duas cenas

1
No meu condomínio ninguém vai à piscina se algum vizinho já estiver lá. O casal do 42 são os novos donos da piscina, chegaram lá hoje às nove da manhã. É domingo, mas eles sabiam que se esperassem um pouco mais, o 22 ia descer com a filharada.

2
Eles estão casados há vinte e dois anos e decidiram reformar o quarto. Ele trabalha em outro estado e vem para casa duas vezes por mês. Eles têm discutido e chorado quando se telefonam. Ela diz que eles estão passando por uma fase difícil. Ele sempre muda de assunto. No quarto agora só falta o papel de parede.

3
A filha morava com a namorada. Depois que se separaram, tiveram de dividir a gata. O padrasto da filha tem alergia a gatos. Então a mãe decidiu comprar um e disse que a filha não podia mais ver a gata antiga, porque o padrasto tem alergia e duas gatas é demais.

4
O terapeuta era além de tudo bonitão. Em dado momento ela apaixonou-se. Ele correspondeu e disse que se separaria para ficar com ela. Nada aconteceu entre os dois até que ela pedisse o divórcio. Então ele cancelou a consulta do dia 20 e continuou casado. Ela nunca mais fez análise e agora só aceitará um príncipe que seja verdadeiro.

13.7.09

oroboro

Assim, como me sinto enquanto lavo o rosto debaixo do chuveiro quente, como uma euforia misturada à placidez de saber que está aí fora no quarto, à minha espera, com seus pensamentos sonolentos sobre o dia e eu; e eu que noutras vezes lavei meu rosto sob a água quente do chuveiro sem conceber que poderia me sentir assim, e mesmo quando saio e a casa já foi refrescada pela manhã, e o ar está suficientemente úmido para poder senti-lo na ponta dos dedos conforme deslizo até o quarto - lá está você - e nunca uma felicidade como esta me percorreu tão insistentemente dias e meses a fio. É tão estrangeiro ver-me ir ao trabalho com os pés arrastados de ontem e mergulhar no vazio das reuniões de decisão alguma, nos escritórios em que nada (nada) germina, mas mesmo assim ansiar por saber da volta, sonâmbulo em meu movimento pendular, sacudido apenas por uma ou outra vontade de não voltar para ti, lembrando subitamente em seguida que acabei trancando a porta ao sair e vendo túrgida a ideia de deixá-la ali presa enquanto sigo outro caminho. Porque é tão aterrador que eu sempre volte e porque sou o teu bicho arredio que acredita que está dando passos para trás quando volta para casa e você no fundo sabe que vou explodir outra vez em qualquer um desses dias, sacudindo-lhe o corpo miúdo para dizer que estamos muito dependentes um do outro, e a verdade é que estamos mesmo dependentes um do outro, mas você não me escuta. Você só age como quer e como quer que eu aja, e eu preciso te lembrar, arrepiado, que corre o risco de me perder para qualquer uma que caminhar pela rua olhando o céu recortado pelos prédios ou sentir particular ternura pelos ipês amarelos, e eu preciso fugir para encontrar estas mulheres ou para nunca encontrá-las e me perder em mim, descobrir de que é que vivo, acabar por escrever um livro salpicado das coisas que você me contou, e você nunca saberá dar o valor justo ao que fiz, e vai me ouvir distraída com a mão enfiada na salada de tomates enquanto eu digo que voltei à cidade para lhe entregar isso e que lhe devo muito do que sou, mas hoje sou maior do que era naqueles nossos tempos, nossas madrugadas em frente à televisão, procurando pornografia de bom gosto, eu me distraía com suas dancinhas malucas e os jogos em que eu sempre perco, porque você me faz rir.

12.6.09

peço

Nada, mas o horror dos dias amarfanhados em obrigações. Qual fuga seria possível dentro de cada escolha? - se assim a chamamos: escolha. Longas tautologias me divertem como um dia as crianças experimentando chapéus. Por quanto tempo essa fruta tenra apodrecida na língua, perguntaria a Caio se eu mesma não fizesse tão pouco caso deste conto. Levaram-me os braços, deixaram-me pedaços mais fracos, mais vadios, como o olho e o fígado. Cante, alto se distante, algo sobre o nosso passado. Deixe-me saber, deixe-me saber. Que tudo volta ou vem de novo. Novo.

1.6.09

retrato

Sonhei esse avião de asas articuladas
acima das nuvens vestidos de noiva
por baixo de um céu azul honesto
coberta a vastidão das cores da terra
de um chão nunca tão seco
mar tão aguaceado
a cidade perfeitamente inóspita
pontiaguda
e o sonho me sobrevoava a alma

25.5.09

Lívia

Que nome dou ao teu rosto
translúcido
diverso
como te chamo
sob as sombras
sob os sustos
da beleza revelada aos pedaços
ou debaixo dos nossos
sonhos
lençóis de versos
em cada manhã de outra procura
você sempre muda
mútua
como que permanente
e amante
na sua tranquila fuga
no nosso tempo contado
(a nossa história é a sua partida)
teremos depressa o passado
amanhã te chamarei
lívida
lépida
ávida?
como mesmo?

atividade interdisciplinar

Tenho um amigo que fugiu da proposta e foi pego. Hoje ele cumpre pena no mundinho dos imbecis.

8.5.09

casocontrário

marchando à revelia
dançando meus demônios
sovando poesia
lambendo prostitutas
eu estou ficando forte
ou estou ficando bruta?

8.4.09

sempre

para a Sheyla



Na primeira manhã do tempo
despertaram silenciosos
as galinhas, as crianças, os carvalhos
cuidaram uns dos outros
e houve até uma breve discussão
em torno de dois dos grãozinhos da areia

Contudo surgia nos olhos
o acinzentado medo
do que se chamaria
porvir

Pois na primeira manhã do tempo
nasceu a ansiedade
– e já que não se sabia
que para tudo existiria hora certa
nasceu desavisada a música, a morte
a História, o almoço

Quando já estava escuro
a ventania folheou um calendário
de páginas ainda brancas
e da boca de um velho
irrompeu o agouro

deve chover
amanhã

5.4.09

-

não há um nome, um título
não é divino
não é edificante
não tem um centro
pra onde eu possa apontar o dedo
não me preenche nem esvazia
não faz jus aos acontecimentos
não é
o que eu disse ontem
não foi
o que eu quis dizer
não quer ser
não mata, não morre
não é forte o bastante
próximo e distante – às vezes não está
não é ruidoso
não avisa quando chega
não tem medo
nem tem fome
não tem o tamanho de um homem
não posso dominá-lo
e não vai desaparecer
não é meu
não é seu
nos foi aconselhado
não comentar

30.3.09

pedaço

Um jantar com meu irmão e o que ele me diz entre seus longos silêncios. Qualquer coisa sobre as aulas na geologia e uma menina que foi enganada por um babaca ou as cervejas que ele tomou na sexta. Agora eu preciso das coisas que forem feitas de algodão. Tragam-nas para mim sem dizer nada sobre o que se passou. Meu irmão nasceu no mesmo dia que minha amiga imaginária Bete morreu. Daí então nós dois nos desocupamos com legos, pias-cachoeiras e regras próprias em qualquer jogo de tabuleiro. Meu irmão nunca soube a vergonha que é inventar uma amiga pra brincar e depois ter que guardar os brinquedos sozinha. Eu espero que ele nunca saiba e que eu nunca mais esqueça.

Além disso, não sei mais escrever. Sinto.

8.3.09

mofina

Quem só a conheceu menina, chapinhando os pés sujos nas poças do bairro, não veria encaixe na figura esguia que agora carrega um bebê a tiracolo, espalhando pelos cômodos o choro bezerrento do filho malquisto. É suja a casa e escura. É feio o bebê, machucado pelo descuido e pelas bofetadas que leva quando ela já cansou de ignorá-lo. Ela o ama como sua vida. Ela o odeia como sua vida. Seus cabelos desgrenhados caem sobre o rosto enquanto ela aguarda impaciente as notícias da cidade, que a mãe vai trazer com o leite.

Próximo ao centro há uma igreja ladeada por ruelas de paralelepípedos. Sempre que um carro passa por ali, é possível sentir a presença de Deus dentro da igreja, e as senhorinhas rezam com mais fervor. Marília está sentada no último banco. A sacola com o leite e os absorventes atrapalha quem entra pelo corredor. Seu pensamento é como o ar desses dias de mormaço. No rosto a mesma expressão morta dos santinhos no altar.

O bebê caiu da poltrona e a menina grita descontroladamente. A rua é toda especulações e fofocas peçonhentas. O bebê está sangrando. A menina está sangrando por entre as coxas. A mãe entra pela porta e todos os dias parecem iguais.

A essa hora a praça está cheia. Já não se chama footing, mas eles sabem que pouco mudou - uma vez que se começa a girar é só deixar a inércia fazer o resto. Cinco velhas gordas conversam. Seus vestidos baratos escondem boa parte do suor. O filho do prefeito passa ao lado empinando a bundinha e as velhas têm assunto para mais uma hora.

Quando era mais nova, sempre que estava excitada, saía para dar uma volta de bicicleta perto da igreja. A janela dos fundos da casa é a única que permanece aberta durante o dia. Ela está sentada com um dedão enfiado no trilho de alumínio e se toca distraidamente. Faz dois anos que não passeia pelas redondezas. Só sai quando o primo a busca de carro para ir à cidade vizinha. O primo não precisa vir mais, está comendo a amiguinha da irmã.

Um casal trepa caladinho no gazebo. De todas as portas abertas das casas sai a luz azul da televisão. É quase bonito para quem passa. Quase.

Marília banha a criança e pensa nos irmãos. A família achava que quem os mantinha unidos era a mãe, mas quando numa madrugada o pai sofreu um ataque cardíaco em frente a um puteiro e morreu, tudo se desgovernou. Nos anos seguintes o dinheiro foi desaparecendo até que não restasse um único telefonema. Marília pensa em ir embora e levar o bebê. Talvez se o tivesse feito, ele chegaria aos três anos de idade e ela não morreria tão desgostosa. Mas talvez não.

21.1.09

coisas imediatas

para Heitor Ferraz Mello

alguma coisa antiga como a vida
me toma de assalto
ouço
Chico Buarque recita
o Canto do Rio em Sol
é tranquila a infância dos pensamentos
que nada pretende
intende
ou entende
nem se preocupa em resgatar
onde foi que isso era isso
antes de se tornar memória
o que me fez assim
agora
é como não se pergunta
de onde vem o mar

19.1.09

ah, carlos

de tudo fica pouco.

13.1.09

além da janela

manhã branca
por entre as folhas
a luz oscila
balança a rede
meu corpo estica
o suor seco da noite
ninguém na casa
uns restos de vinho
na cama ainda
restos da moça

2.1.09

janela

um pássaro é
pelo tempo do pouso
nas cores que deixa revelar
enquanto gira o corpo
em movimentos desconfiados
depois levanta voo, é tão rápido
não é mais pássaro
é ideia de pássaro
lembrança de pássaro
nome de pássaro
por muito tempo ainda o pássaro
é um galho fino a balançar

1.1.09

teste 2

No dia seguinte Cláudio é levado ao Núcleo de Desenvolvimento de Pessoas e sai mastigando tranquilamente uma barrinha de cereais

A príncipio, acharam que se tratava de uma brincadeira. Ele e mais quinze ou vinte pessoas perturbavam as catracas e rumavam para as duas portas giratórias da saída. Quando foi a sua vez de girar, esperou o ponto exato em que não há abertura de ambos os lados da porta e estacou. Um grupo de pessoas se acumulou na fila antes de começar a tomar a via alternativa e o burburinho chamou a atenção de um dos seguranças. A passos cinicamente lentos, ele se aproximou e bateu no vidro com o dorso da mão. Lá dentro o homem não levantou os olhos.

Pensou-se então que ele poderia estar preso e, do lado de fora, um rapaz forçou a porta. E aí tudo aconteceu muito rápido. O homem alargou a distância das pernas até cair sentado no chão, tirou papéis da pasta enquanto as solas dos sapatos se firmavam no vidro e por fim usou a papelada para prender os dois lados da porta. A reação imprevista desarmou os observadores, que esperaram quietos como se respeitassem aquela cena sem contudo compreendê-la.

O garoto que forçou a porta aproximou-se e agachado perguntou se o rapaz estava bem. Tinha trinta anos, no máximo, e abraçava vigorosamente os joelhos. Voltou-se para o garoto, um motoboy, os olhos muito vermelhos, e disse alguma coisa. Do lado de dentro, um senhor perguntou: o que ele disse? Mas o boy não tinha conseguido ouvir.

- O que você disse? Precisa de ajuda? - tentou o senhor.

Na porta, o homem remexeu a pasta e tirou algo com a mão direita num gesto brusco, que fez o senhor se proteger com os braços e logo em seguida se sentir ridículo. Uma caneta piloto de cor azul percorreu então o vidro cuidadosamente, enquanto mais pessoas chegavam ao saguão. Batiam seis e vinte adiantadas no grande relógio da parede.

"O tempo agora parou", informavam as letras tremidas no vidro. O tempo parou, embora a outra porta girasse incansavelmente ternos e taillers à frente do funcionário, novamente desmanchado no chão, profundas olheiras e suor nas têmporas. Entre aqueles que deram atenção ao espetáculo começaram a circular boatos. Um segurança parece tê-lo visto girar quatro vezes na porta antes de entrar naquela manhã. Alguns especulavam que se chamava Fernando e fazia parte da equipe de RH e até então ninguém que passou por ali o conhecia.

A primeira foi dona Cleide, secretária no oitavo andar, que o reconheceu e abaixou-se para tentar conversar. Ela invocava Deus quando o colega Mauro enfim chegou com um sorriso nervoso ou debochado no rosto. Ele pediu desculpas a desconhecidos pela demora, estava preso em uma reunião, bateu no vidro e forçou a porta de dentro para fora. O colega reforçou a trava de papéis, levantou a cabeça em direção a Mauro e gesticulou "nunca mais".

Já havia passado mais de uma hora quando se soube pelo estagiário que o maluco da porta confessara há poucos dias um medo terrível do dia seguinte.

- Bom, ele me disse que tinha medo do dia seguinte... e eu concordei.

A essa altura, dona Cleide já chorava e os seguranças decidiram-se por chamar os bombeiros. Naquela fatia da porta, o homem se despia vagarosamente, até restar completamente nu e afastar com os pés a gravata, as meias finas, as calças. Antes da chegada dos bombeiros, ele já tinha picotado ritualmente todos os papéis e agora empurrava a porta em direção à saída. A noite fria ouriçou-lhe os pêlos e atrás dele a turma das oito já estourava pela porta fazendo varrer em círculos os restos deixados pelo rapaz.