16.7.08

de volta

Fica um pouco mais, eu te pedia ao pé do ouvido, roçavam o travesseiro as palavras mudas, te pedia da boca para dentro, te pedia. Fica um pouco mais, estiradas no chão daquela sala, o nosso lugar [que agora reformado, lavado de nós, quer saber para quem são os outros centímetros da nova cama]. Fica um pouco mais, e tu logo se convertia em coisa outra, acendia cigarros e serpenteava pela casa – não há muito para onde ir, você sabe, somos só nós e as paredes que erguemos, e o ar aqui dentro se acumula. Ele é tudo o que suspiramos, tudo o que gememos, ele é feito de nós, não há sentido, não há para onde. Eu sei. Mas você bramia porta afora, para tomar fôlego, seduzir um desconhecido, ficar horas naquela ponte, esperando o quê passar? E voltava enfim, usava a própria chave, tomava um banho eterno, eterna a minha espera ao lado da porta. Eu não queria, não queria, mas te perguntava o que havia lá fora, se sol fazia, se descobrira qualquer caco na rua que a gente pudesse trazer para dentro [desconfio que em algum momento tenha passado a esconder cacos nos bolsos].

Você disse que não se esqueceria. Mas a gente se esquece das coisas que diz.

Vai passar o tempo e te encontro outra vez. Falaremos sobre as coisas dos homens e nos cumprimentaremos como galinhas gordas que se bicam nas bochechas e não se alcançam. Quero uma boa desculpa para que me vire as costas e vá embora, para que erga as sacolas, me vire as costas e vá, mas não sem ouvir, ouça pela primeira vez, quando eu te sussurrar, te mostrar no dedo o nó que ancora a imensa promessa de nós duas, te trouxer de volta. Fica um pouco mais.

2 comentários:

Marcos Cruz disse...

Um último encontro romântico... belo! bela gaia!

Anônimo disse...

e segunda-feira ninguém sabe o que será...

o email: marianaruggieri@yahoo.com.br