14.5.08

tic

O dia tingido de amarelo, voltando luz às cores fortes, à rua, às roupas, à mulher que arrasta seu guarda-chuva pela calçada áspera de vida, os pés firmes na poeira cor do céu cinza desse dia de contrastes, os letreiros, semáforos, faróis dos carros muito vermelhos, muito cor, muito. Meus olhos manchados de todos os tons seguem o guarda-chuva que trepida na brincadeira preguiçosa da moça de laranja que vai para onde. Um homem olha o outro decidido, com o grande nariz, num instante último em que se cruzam, cumprimenta. O outro estaca. Eu estaco. O homem que carrega um embrulho de isopor atrás de mim, quase me suja de molho. Que molho? Mas não se ouve o tic tic do guarda-chuva que se foi à frente, nem soube do nosso quase acidente de pedestres mornos nesse dia inteiro de cores, dia agressivo nublado, com promessa de chuva e sem chuva pra descansar o corpo, exausto do ofício, na certeza de um vaiparar, hora ou outra, parar. E o relógio insiste.

2 comentários:

Marcos Cruz disse...

Lindo...!
Muito bom esse texto, gúria.
Sempre a velocidade de todas a coisas... de todas as horas,
E tu consegue torna as pequenas coisas em poesias...
Queria ser esse garda-chuva.
[Continue assim que foi virar seu fâ!!rs]

Sheyla disse...

...eu lembrei desse texto quando estava no quentinho da cama e pensei num comentário bem pertinente. mas esqueci.

então te deixo um carinho de guarda-chuva [eu não sei como é, também]