6.11.08

sem título

não precisa ser sempre publicável, precisa ser só
a vontade de mergulhar quando tiro a roupa em frente à janela,
o ar fresco da noite nos peitos
mas meu pai desaprovaria essa exposição, meu tesão pelos estranhos,
essa repulsa pelo verbo administrar
meu pai procura me ensinar a viver,
mas viver é mesmo aprender a viver
não precisa ser sempre publicável, precisa ser só
o cheiro obsceno de um amor antigo
do que é que sou feita depois de experimentada pela vida?
depois de experimentada, a vida precisa ser publicável?
a dignidade das minhas noites mal dormidas,
a cotação de cada crise,
um gráfico bem elaborado do meu crescimento
precisa ser vida ou só
projeto?
(e uma ansiedade triste)
quando eu nascer vigorosamente noutro dia,
preciso ser pública e publicável?
quanto valho sozinha?
se toda madrugada é um fôlego

6 comentários:

Anônimo disse...

deveriam estar aí, mas eu detesto os pontos de interrogação.

Anônimo disse...

lindo!
profundo e cheio de conteúdo frutuoso.
líquido e intenso.
como descobrir a vida sob folhas em putrefação.

Anônimo disse...

ei, cara. eu só tava bêbada.

Heitor F.M. disse...

Gaia,
sabe, vou lendo seus "proemas" entre a confissão e a ficção (roubando o título de um ensaio do Antonio Candido), e fico deslumbrado com a liberdade do texto. Nem sei explicar. Estou sempre querendo explicar. Não, não quero explicar, quero dizer que estes textos são tudo de bom, de ler. Até aquele diálogo com a mãe, que fez rolar de rir... Meu, tem certeza que você não é poeta? Beijos, do caquético professor e admirador literário, Heitor

Yane Santiago disse...

Tem escrito umas coisas bonitas.

gaia disse...

rearranjei a forma desse texto. não sei dizer se ficou melhor.

peço desculpas pela grosseria com o anônimo. não respondo bem a elogios, embora goste de recebê-los.