2.11.08

tinta fresca

Eu te devoro com os olhos úmidos. Eu tento te amolecer. Mas teu bom olho bóia etílico e embaçado – você nunca mais vai me ver. Eu arrasto os pés por esse espaço teu, eu contamino a tua vida? Eu quero amaldiçoar todos os cantos com a minha melancolia, mas tudo virou para o avesso e os cantos convergem em um só ponto, que eu não vejo – aqui eu não caibo, aqui eu não mereço. Eu sou expulsa pela tua indiferença. Eu levo um pedaço de você, de que nem vai se lembrar. E o dia tem seus direitos.

Esse domingo chove descompassado. Eu não quero voltar para a cidade. A fuligem cobriu minha alma quando pisei descalça o asfalto. Eu quero ir lá fora agora, menina, eu quero a chuva, a lama entre os dedos, a grama macia, eu quero meu corpo mais livre, meu corpo de criança reconciliado com o mar. Eu não te queria quando eu comecei, o que eu quero é terminar contigo. Vamos, vamos lá fora. Eu um dia te convidei para dançar. Mas você é a dona da música. A dona da música de costas para mim. Quando você se virar, será para o lado errado, o lado em que você continua sem (me) enxergar. Eu moro do lado de lá do teu rosto. Eu acho que vou sempre morar.

Um comentário:

Unknown disse...

é.. as vezes a gente vive no avesso das pessoas, ou vai ver que somos esse próprio avesso, impossível de juntar.