22.12.08

pós

Há pouco mais do que o desejo de que venha. Do que a vontade de me deitar ao seu lado e ver que tudo ainda pode ser dito. Mesmo que não daquela maneira, não como nas longas cartas. No fim, ambiciono o fim do silêncio mais do que tudo. Porque a vida se divide em gomos em que o silêncio é necessário e gomos em que se torna absolutamente insuportável. Assim como não supõe os dias sem água, sem sono, sem porto, os dias de boca salgada e bolhas de sol, o náufrago que luta para emergir; assim é a minha ignorância, e digo, repito, caduco, quero pouco mais do que te encontrar na plataforma e transferir tua bagagem para as minhas mãos. Um peso que não me cabe e que vai me desprezar em toda a sua trajetória. Quando é de nossa escolha ficar – fincar –, o tempo articula sagaz a sua vingança. Faz correr o que ignoramos e boiar podre toda a vida entre um copo e o nariz. Mas desejo que venha, pois se um dia ficamos é para no outro encarar o que envelhece, com nossos olhos perturbados infantis. Deite-se ao meu lado por um momento apenas, ouça a rouquidão do meu cansaço, me conte o que havia por lá, onde a saudade que entornei não alcançou.

2 comentários:

Heitor Ferraz Mello disse...

que lindo!!!
bjs, Heitor

Anônimo disse...

que... hmm... pessoal e ao mesmo tempo universal