- Eu não posso ser nada pra você agora. Arraste esses olhinhos pra lá, meu amor, André, violãozinho. Eu não sei te fazer carinho quando estou assim tão triste.
14.12.07
o meu samba está de luto
- Eu não posso ser nada pra você agora. Arraste esses olhinhos pra lá, meu amor, André, violãozinho. Eu não sei te fazer carinho quando estou assim tão triste.
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Isabela Gaia
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7.12.07
pescaria
... a água da torneira esquentou rápido - peguei trauma de bidê porque o lá de casa era desregulado, eu sempre levava um banho, talvez fosse porque eu tentava abri-lo estando de pé, por que eu fazia isso? - acho que era 'uma babá quase perfeita', alguma coisa assim, ela estendia o lençol perfeito na cama, só sacudindo e deixando cair - parece um pesadelo essa saudade - esqueci meu guarda-chuva no carro do cara - faz silêncio aqui, estou perdendo meus amigos - chove ainda - medo de ir ficando sozinha, como que sendo expelida do que já fui, quando éramos todos - o sorriso dela, o sorriso - em 1996, meu irmão tinha seis anos - aquaplanagem é uma palavra tão bonita - acho que música instrumental não me absorve, sou mais eu que absorvo ela, talvez - os exercícios do cursinho, pra descobrir os ângulos dos triângulos - acabou de passar o último túnel - ando dando pouca atenção a minha mãe - poxa, eu estou bem, estou muito bem - há algo errado com o pH da minha língua - maresia - se fosse em um acidente de carro - fome - se fosse no mar - a vez que gastei um filme de 36 com fotos das bonecas no quintal - cheiro de casa ...
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Isabela Gaia
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4.12.07
plagas sem ti
A porta do elevador se fechou, a minha continuou aberta. Apoiei-me de leve sobre a maçaneta e encostei o rosto na superfície fria da porta, numa cena tragicômica, esperando que o elevador voltasse, que o silêncio acabasse com ela chegando outra vez. A luz do hall se apagou e resolvi que era esse o aviso para que voltasse pra dentro. Pensei nela enquanto esquentava a sopa e trocava o pijama e depois disso também. Achei o apartamento um pouco vazio demais, um pouco vazio de mim - porque ela é mulher de preencher espaços e permanecer, mesmo quando acreditamos ter ido embora.
Sabia que a sopa estaria sem sal, mas resolvi tomá-la desse jeito. É que em noites assim eu tenho meu próprio gosto, e aprendi, talvez com ela, a respeitar o que vem de dentro. Senti as pernas doloridas e estranhei - não estranhei - ter reparado só agora. Havia passado a tarde caminhando sob a chuva e sob o sol e sob a chuva e sob o sol. Não caberia dizer a ela, mas passei o dia tentando caminhar até a noite, quando nos encontraríamos. E agora a madrugada invadia e a sensação era de mais um encontro molhado de lágrimas e qualquer coisa como culpa, que também não é culpa, era mais um: sinto muito por tudo não ficar bem sempre e para sempre.
Me enche de medo pensar que o apartamento pode ficar manchado de tristeza para nós. Porque as lágrimas caem quase todas no meu edredon verde-limão e por mais que ela goste dele, ninguém dorme bem em coisa molhada.
Será que volta? Será que vai lembrar que depois que choramos, acabamos sempre sor-rindo e que, no fim [ou no meio], somos sempre esse emaranhado bonito de felicidade e dor?
Vou esperar acordada por uma hora, talvez duas, talvez volte. Se não voltar, ligo pra ela cedinho e conto como a noite foi triste, dum jeito que não aflija nem pese, mas que seja eu: Meninha, sabe que tinha um ossinho fino de frango na minha sopa e eu quase morri mas não?!
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Isabela Gaia
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2.12.07
ausente
É como uma pilha imensa e desequilibrada de mágoas, que foi se fazendo por dentro até chegar-me à boca e dar esse gosto de tristeza, de um lamento tão grande... que se recusa a ser vomitado. Perdi a conta do quanto nos agredimos até que virássemos esses retalhos de carne viva, e eu queria tanto saber juntar tudo e remendar e cuidar para que fôssemos outra vez. Só o fundo de mim sabe o quão inútil é essa ansiedade...
Agora nos encontramos e eu não tenho mais vontade de te encostar. Não quero que me encoste também. Meu corpo são cinzas, o que restou são cinzas. Eu me sinto arrastando um peso morto, tão cansado de carregar na boca o veneno da tua saliva, que me condenou os dias, desde aquele em que respondeu ao meu amor com um punhado de compreensão e carinho. [aquele dia em que pedi calma - à tua língua, ao meu coração]
Tem até pedais. Eles giram fazendo um barulhinho circular estridente. O dono da loja ficou satisfeito com minha escolha. Ele me lembra um pouco o teu avô Inácio. Coloquei a bicicletinha na estante do quarto, e de vez em quando acordo e acendo a luz pra olhar pra ela. Ali, num embrulho transparente, com fita azul e um cartão, que eu também nunca vou te entregar.
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Isabela Gaia
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