4.12.07

plagas sem ti

A porta do elevador se fechou, a minha continuou aberta. Apoiei-me de leve sobre a maçaneta e encostei o rosto na superfície fria da porta, numa cena tragicômica, esperando que o elevador voltasse, que o silêncio acabasse com ela chegando outra vez. A luz do hall se apagou e resolvi que era esse o aviso para que voltasse pra dentro. Pensei nela enquanto esquentava a sopa e trocava o pijama e depois disso também. Achei o apartamento um pouco vazio demais, um pouco vazio de mim - porque ela é mulher de preencher espaços e permanecer, mesmo quando acreditamos ter ido embora.

Sabia que a sopa estaria sem sal, mas resolvi tomá-la desse jeito. É que em noites assim eu tenho meu próprio gosto, e aprendi, talvez com ela, a respeitar o que vem de dentro. Senti as pernas doloridas e estranhei - não estranhei - ter reparado só agora. Havia passado a tarde caminhando sob a chuva e sob o sol e sob a chuva e sob o sol. Não caberia dizer a ela, mas passei o dia tentando caminhar até a noite, quando nos encontraríamos. E agora a madrugada invadia e a sensação era de mais um encontro molhado de lágrimas e qualquer coisa como culpa, que também não é culpa, era mais um: sinto muito por tudo não ficar bem sempre e para sempre.

Me enche de medo pensar que o apartamento pode ficar manchado de tristeza para nós. Porque as lágrimas caem quase todas no meu edredon verde-limão e por mais que ela goste dele, ninguém dorme bem em coisa molhada.

Será que volta? Será que vai lembrar que depois que choramos, acabamos sempre sor-rindo e que, no fim [ou no meio], somos sempre esse emaranhado bonito de felicidade e dor?

Vou esperar acordada por uma hora, talvez duas, talvez volte. Se não voltar, ligo pra ela cedinho e conto como a noite foi triste, dum jeito que não aflija nem pese, mas que seja eu: Meninha, sabe que tinha um ossinho fino de frango na minha sopa e eu quase morri mas não?!

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