13.1.08

planctons

É madrugada sem horas nem cor. Ela me fita através do escuro. Temos a mesma altura, ajoelhadas. Nossas saias – embebidas em mar e sal e areia – encostam as barras conforme as soerguemos até à beira d’água. Carregamos cada uma, nessa barriga de tecido que se forma, pelo menos uma dezena de pequenos serezinhos brilhantes, que deslizam de um lado para o outro. É como se os embalássemos. Rimos, e levantando a cabeça: nos sorrimos.

Não enxergo seus olhos, mas a boca se revela clara, e eu a sinto salgada. Quando vem uma onda, nos levantamos de súbito sincronizadas, e os corpos se encostam encharcados até os seios. Os abraços são todas as palavras não ditas. Celebramos.

A menina termina meu ano com promessas, com amor verdadeiro. Ela o cose delicada, sem me perguntar quantos meses durou e o quanto custou arrastá-lo até ali. A menina não entende de pesos ou medidas. Mora no mar. Chegou quando a maré baixou, caminhando por aquela passarela enluarada que atravessa o mar inteiro quando a noite vem. Trouxe apenas os cabelos dourados, de cachos desfeitos, escorridos pelas costas – suas pontas lambem a superfície da água e minhas mãos machucadas.

Ela me cura. Me envolve no seu leito de maresia e traz de volta a paz. De todo o antes, não há mais nada. E eu já posso pisar a terra.

2 comentários:

Unknown disse...

planctons curam desamores.. já ouvi dizer.

Dia 10 disse...

Quanto lirismo cabe aqui!