7.1.08

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Eu penso na casa. Penso em vocês.

Arde, arde o peito preso. O ar preso arde. E não há um corpo quando é assim. Não lembro braços colados ao tronco, estúpidos imóveis. Não sei das pernas trançadas nesse chão. O corpo no chão, não sinto. Há somente o peito, um centro de dor. E tudo se concentra. E tudo desconcerta. Fundo. Eu penso em vocês.

Vem vontade de cheiro de mato e me esforço pra lembrar por quê. É a vó, que caminha pelo sítio segurando dentro da sua, a minha mão pequena. Diz pra eu sentir os eucaliptos – aos montes atrás da casa grande. Acompanho-a penosamente, tentando me invadir do cheiro fresco e de um ar que nunca vem.

E é esse tempo seco. Esse chão imundo. O quarto quente e todo o ar que não há. Preciso voltar, mas ainda consciente – penso em vocês. Calma, acalma.

Acalma, filha. É meu pai que fecha os olhos a pedir. Cola o peito contra minhas costas fracas e pede que eu respire junto. Acompanha... Enche os pulmões e os meus, doentes, tentam-tentam. Somos silêncio. Tanto.

Mas de nada adianta o ar que entra. E não sai. O ar apodrece dentro do peito duro, não sai. Eu sopro fu-undo, doído.

Minha mãe aguarda compreensiva à porta da casa grande. Quando volto, senta-me na cadeira e acalma. A mãe é feita de calma fingida e de um amor em tapas ocos pelas costas. Mãe, eu só queria que fosse para sempre. Cobre minha cabeça com a toalha branca-branca e fico eu e o vapor da bacia. A respiração forte, a paz da bacia. Vai sumindo o gatinho de dentro. Ouço a mãe miar: melhor, princesa?

Eu penso na casa, no ar fresco da sala. No cheiro limpo. Na música toda. Eu quis voltar. Quando não quis mais nada, eu quis voltar. E agora esse chão contra o rosto, esses olhos aflitos e o ar que não chega.

O peito inflamado. As costas cansadas. A morte nascente. E eu penso em vocês.